terça-feira, 1 de novembro de 2011

O Naturalismo

       O naturalismo é uma analise mais profunda do realismo, essa nova escola literária baseava-se na observação fiel da realidade e na experiência, mostrando que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. O Naturalismo deu os primeiros passos do pensamento Teórico evolucionista. 
            Os romances naturalistas se destacam pela abordagem extremamente aberta do sexo e pelo uso da linguagem falada. O resultado é um diálogo vivo e extraordinariamente verdadeiro, que na época foi considerado até chocante de tão inovador. Ao ler uma obra naturalista, tem-se a impressão de estar lendo uma obra contemporânea, que acabou de ser escrita. Os naturalistas acreditavam que o indivíduo é mero produto da hereditariedade e seu comportamento é fruto do meio em que vive e sobre o qual age. A perspectiva evolucionista de Charles Darwin inspirava os naturalistas, esses acreditavam ser a seleção natural que impulsionava a transformação das espécies.
              Assim, predomina nesse tipo de romance o instinto, o fisiológico e o natural, retratando a agressividade, a violência, o erotismo como elementos que compõe a personalidade humana. Ao lado de Darwin, Hippolyte Taine e Auguste Comte influenciaram de modo definitivo a estética naturalista. Os autores naturalistas criavam narradores oniscientes, impassíveis para dar apoio à teoria na qual acreditavam.
          Exploravam temas como o homossexualismo, o incesto, o desequilíbrio que leva à loucura, criando personagens que eram dominados por seus instintos e desejos, pois viam no comportamento do ser humano traços de sua natureza animal.Aluísio Azevedo com a obra O mulato, publicado em 1881, marcou o início do Naturalismo brasileiro, a obra O cortiço, também de sua autoria, marcou essa tendência.
            Em O cortiço a face completa do Naturalismo pode ser vista, nessa obra o indivíduo é envolvido pelo meio, o cenário é promíscuo e insalubre e retrata o cruzamento das raças, a explosão da sexualidade, a violência e a exploração do homem.

(Davi Pinheiro)

Vida e Obra do Autor

1857 - Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo nasce em São Luís do Maranhão.
Filho do vice-cônsul português Davi Gonçalves de Azevedo e D. Emília Amália Pinto de Magalhães. Irmão mais moço de Artur Azevedo.

1876 - Embarca para o Rio de Janeiro. Trabalha como caricaturista em jornais políticos e humorísticos.

1878 - Falecendo seu pai, Aluísio regressa a São Luís.

1880 - Publica “Uma Lágrima de Mulher” iniciando sua carreira de ficcionista.

1881 - Publica “O Mulato”, obra muito bem recebida pela crítica da Corte como exemplo de Naturalismo. Muda-se novamente para o Rio de Janeiro, onde faz da pena seu instrumento de trabalho. È seu período de maior fertilidade literária. Escreve sem interrupção romances, contos e crônicas, além de peças teatrais. Considerado o introdutor do Naturalismo em nosso país, Aluísio procede a uma inovação da literatura brasileira, apresentando a coletividade como personagem. É o romance social, no qual conseguiu exprimir sua vocação de criador de tipos e fixador de ambientes.

1895 - Ingressa na carreira diplomática como cônsul.

1913 - Falece em Buenos Aires a 21 de janeiro.





(Inocêncio Solimões)

Contexto Histórico

A segunda metade do século XIX é caracterizado pela consolidação do poder da burguesia, o materialismo e o crescimento do proletariado. Por um lado havia o progresso, representado pelo crescimento das cidades, por outro lado havia o crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder, o operário manifestava sua insatisfação promovendo as primeiras greves. Sob esta conjuntura nasceram e se desenvolveram as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científico que fez com que o idealismo e o tradicionalismo fossem substituídos pelo materialismo e racionalismo. O método científico passou a ser o meio de análise e compreensão da realidade. Algumas teorias deram fundamentos ideológicos à literatura do Realismo-Naturalismo, quais sejam a Teoria Determinista (Hippolyte Taini, 1825-1893), que diz que o comportamento humano é determinado pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento e o Evolucionismo (Charles Darwin, 1809-1882), que defende a tese de que o homem descende dos animais.
As características comuns a esta escola literária são intrinsecamente conectadas à realidade da época, dando às obras um tom menos poético e subjetivo, comuns às escolas precedentes. Nos romances realistas e naturalistas podem verificar: 

Veracidade: Procura narrar os fatos que tenham seus correspondentes na realidade;
Contemporaneidade: Procura a realidade que lhe é contemporânea; Retrato fiel das personagens: Retrata os tipos concretos, vivos, ou seja, não-idealizados;
Gosto pelos detalhes específicos: descreve os mínimos detalhes, as minúcias na caracterização das personagens e ambientes. Materialização do amor: O homem passa a ver a mulher como objeto de prazer;
Denúncia das injustiças sociais: Acredita numa função social da arte, mostrando o preconceito, a hipocrisia, a ambição dos homens;
Determinismo e relação de causa e efeito: Procura uma explicação lógica para as atitudes das personagens, considerando a soma de fatores que justificam suas ações.
Linguagem próxima à realidade: O universo semântico retrata a realidade cotidiana. A linguagem é simples, natural e clara; Visão determinista e mecanicista: O homem é considerado como um animal. 
• Cientificismo: Procura analisar o homem objetivamente, considerando-o como um caso a ser analisado.
• Personagens Patológicas: Procuram comprovar a tese determinista, preferiam personagens mórbidas, adúlteras, assassinos, bêbados, miseráveis, doentes, prostitutas.


(Inocêncio Solimões)

Análise dos Personagens

          João Romão – esperto, miserável, inescrupuloso (chegando, muitas vezes a margear a desumanidade), ganancioso, empreendedor, enganador e invejoso. É o dono do cortiço no qual se ambienta o livro. É “marido” de Bertoleza. “... deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas...”.      (Inocêncio Solimões)
          Bertoleza – trabalhadora, submissa, sonhava com a liberdade por meio de uma carta de alforria. É enganada por João Romão quando este falsifica sua carta de alforria. Representa o arquétipo da mulher ideal nos moldes da época, acrescido do fato de ser negra e escrava. “E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, (...) são capazes de matar-se para poupar do seu ídolo a vergonha do seu amor.”
“... às quatro da madrugada estava já na faina de todos os dias...” (Inocêncio Solimões)
          
          Jerônimo – nostálgico, forte, trabalhador, dedicado e honesto. É casado com Piedade, mas sucumbe à malemolência de Rita Baiana. “... a força de touro que o tornava respeitado e temido por todo pessoal...”, “... grande seriedade do seu caráter e a pureza austera dos seus costumes...”. “... um pulso de Hércules...”.  (Inocêncio Solimões)

          Piedade – submissa, honesta e trabalhadora. Era esposa de Jerônimo, e, assim como Bertoleza, se assemelha nos aspectos psicológicos. “Piedade merecia bem o seu homem, muito diligente, sadia, honesta, forte, bem acomodada com tudo e com todos, trabalhando de sol a sol e dando sempre tão boas contas da obrigação, que os seus fregueses de roupa, apesar daquela mudança para Botafogo, não a deixaram quase todos.” 
(Inocêncio Solimões)

          Firmo – gastador, vadio, galanteador, charlatão e presunçoso. Amigo de Rita Baiana, é descrito como “um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira”. “...Era oficial de torneiro, oficial perito e vadio: ganhava uma semana para gastar num dia...”. 
(Inocêncio Solimões)

          Rita Baiana – malemolente, sensual, alegre e assanhada. É objeto de desejo da maioria dos homens do cortiço. “E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.” 
(Inocêncio Solimões)

          Pombinha – amiga, inteligente e pura. Representa o extremo oposto de Rita Baiana, com sua beleza imaculada. “A filha era a flor do cortiço (...) Bonita, posto que enfermiça e nervosa ao último ponto: loura muito pálida, com uns modos de menina de boa família”. “...era muito querida por toda aquela gente.”
“Era quem escrevia cartas (...) quem tirava as contas; quem lia os jornais...”  
(Inocêncio Solimões)

          Léonie – prostituindo-se, independe dos homens. “... com as suas roupas exageradas e barulhentas de cocote à francesa, levantava rumor quando lá ia e punha expressões de assombro em todas as caras.” (Davi Pinheiro)

          Miranda – invejoso, ganancioso, rico, esperto, oportunista, não era feliz no casamento, entretanto, continuou casado pois dependia do dote de sua esposa, D. Estela. “... o Miranda pilhou-a em flagrante delito de adultério; ficou furioso e o seu primeiro impulso foi de mandá-la para o diabo junto com o cúmplice; mas a sua casa comercial garantia-se com o dote que ela trouxera...”   (Davi Pinheiro)

            D. Estela – adultera e presunçosa. “...senhora pretensiosa e com fumaças de nobreza...” 
(Davi Pinheiro)

          Zulmira – vivia para satisfazer a vontade do pai. “...pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios (...) olhos grandes, negros, vivos e maliciosos.” 
(Davi Pinheiro)

          Henrique – estimado de Dona Estela. “Dona Estela, no cabo de pouco tempo, mostrou por ele estima quase maternal...” 
(Davi Pinheiro)

          Botelho – antipático e parasita.“... muito macilento, com uns óculos redondos que lhe aumentavam o tamanho da pupila e davam-lhe à cara uma expressão de abutre...”.
“...via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda...”  
(Davi Pinheiro)

Enredo da Obra


          João Romão é um português muito ambicioso que, juntando dinheiro à custa de muito sacrifício, consegue comprar um estabelecimento comercial no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro. Ao lado de seu estabelecimento mora uma escrava fugida, chamada Bertoleza, que possui uma quitanda e algumas economias guardadas. Os dois passam a morar juntos e a escrava passa a trabalhar arduamente para o português que, para agradá-la, falsifica sua carta de alforria. Com as economias de Bertoleza, João Romão compra um pedaço de terra e aumenta sua propriedade. Com o esforço do seu trabalho e o da escrava, o português compra mais terras e expande seus empreendimentos, construindo três casinhas de são alugadas de imediato. Como a procura de casas para alugar era grande e a ganância do português também, ele vai construindo cada vez mais cubículos e amontoando aos outros já existentes até formar um vasto cortiço.
          Ao lado do cortiço havia um sobrado, no qual fora morar Sr. Miranda, português de classe elevada, dono de um atacado de fazendas (tecidos), cuja mulher levava uma vida adúltera. Miranda não gosta do Cortiço ao lado do seu sobrado e nem de João Romão, que era o dono de tudo aquilo e também de uma pedreira que ficava atrás do terreno do cortiço e lhe dava muito dinheiro. Nesse imenso cortiço moram pessoas dos mais variados tipos: lavadeiras, vadios, trabalhadores, benzedeiras, brancos, pretos, mulatos; demonstrando a grande variedade de raças e gêneros encontrados no país.
          Rita Baiana, mulata sensual e dançarina provocante, encanta Jerônimo, um português casado que tinha muita saudade de sua terra natal até então. Rita vira sua cabeça e ele, já com hábitos brasileiros e não suportando mais o cheiro de sua mulher, briga com Firmo, companheiro da Baiana e capoeirista bom de briga. Este abre a barriga do rival com uma navalha. Na confusão, Firmo foge e Jerônimo é levado para o hospital.
Nesse ínterim, surge um novo cortiço na região, cujo moradores são chamados de “Cabeça-de-gato” pelos moradores do cortiço de João Romão, que acabaram recebendo o apelido de “Carapicus”, como forma de revide. Os moradores dos dois cortiços acabaram se tornando inimigos entre si. Firmo vai morar no “Cabeça-de-gato” e passa a exercer grande influência lá dentro, tornando-se uma espécie de líder. Quando Jerônimo sai do hospital, ele resolve se vingar, armando uma emboscada e matando Firmo a pauladas. Em seguida, Jerônimo foge com Rita Baiana, abandonando sua mulher.
          Revoltados com a morte de seu líder, os moradores do Cabeça-de-gato invadem o cortiço para se vingarem. No meio da confusão, alguns barracos do cortiço começam a pegar fogo e colocam fim ao confronto entre os dois grupos rivais.
          João Romão, dispondo de muitos bens e dinheiro recebido do seguro contra incêndio que havia feito, reconstrói o cortiço, com feições muito melhores e mais organizado. Agora, a intenção dele é casar-se com Zulmira, a filha de Miranda, moça de fina educação. Porém, Bertoleza, depois de ter trabalhado duro e ajudado a construir tudo o que o português tinha, acabou tornando-se um problema para ele. Com Bertoleza em casa, o português não poderia casar-se com Zulmira, casamento esse que já tinha o consentimento do Sr. Miranda. A única solução encontrada por João Romão foi mandar uma carta para os antigos proprietários da escrava, advertindo-os sobre seu paradeiro. A polícia, em pouco tempo, aparece na casa do português acompanhada de seus antigos senhores para levar Bertoleza. Ela, compreendendo o seu destino, comete suicídio cortando o ventre com a faca que estava limpando peixe para a refeição de João Romão.


(Davi Pinheiro)